Uma Ode ao Capitão, que apenas não tem a braçadeira…
Rui Patricio é um nome que não gera consenso. É capaz de gerar os maiores ódios e rancores, tal como os maiores amores. Não é fácil encontrar um meio termo para descrever o guardião português. E este problema nem sempre existiu…
Na sua estreia como sénior teve tudo a seu favor que lhe apontavam uma carreira brilhante. O adepto português, habitual na sua análise meramente emotiva, já o apontava como um potencial melhor do mundo na posição. Basta alguém se estrear jovem e brilhar que é esta a reacção. E isso tratou de limitar a acção de Rui, durante muitos anos…
Nem todos sabem, a curto prazo, lidar e reagir ao excesso de pressão. A pressão para ser o melhor tem de existir, mas há processos que são naturais e outros que são impostos. Portugal queria um guarda-redes de topo após Vitor Baía, e encontraram num jovem na altura, cheio de garra e qualidade, o modelo ideal para ser o substituto. Nem sempre é positivo, e se a comparação é necessária, em excesso torna-se apenas escusada.
Muitos apontam-no como um guarda-redes que comete demasiados erros. Aliás, muitos até gostam de exagerar e dizer que só dá erros. É a visão do copo meio cheio… ou vazio. Alguns preferem beber a água toda num gesto egoísta, e outros preferem encher o copo para outros aproveitarem para matar a sede. Passe a metaforização, é para dizer que as pessoas exageram e tendem a tomar posições extremistas para o que não entendem… e pior, para o que não querem entender!
Hoje Rui Patricio, e foi este o motivo desta prosa, foi assobiado por largar uma bola. Sim, é verdade. E insultado por tal. A tal visão do copo meio vazio… Esqueceram-se porém de incluir o momento da reacção ao erro. É que é verdade que largou… mas a recção e a defesa seguinte ao erro a evitar o golo é notável. Reacção, agilidade, velocidade e explosão. Brilhante, o avançado esperava mesmo que ia ter um golo fácil de obter, mas um guarda-redes não desiste.
Rui não desistiu. E ele não tem a melhor imprensa em Portugal. É bem mais fácil denegrir a sua imagem, como profissional e pessoa, do que apoiá-lo. Um cidadão de respeito (como já provou com as suas atitudes na sociedade) e uma pessoa fantástica. Trabalhador, humilde e com qualidade. Quer sempre aprender mais, como todos nós queremos e devíamos querer. Ele é um exemplo de coragem, audácia e capacidade de superação. O seu clube nem sempre viveu o melhor momento, e hoje, com outra ambição, ele é outro.
Numa época fantástica até ao momento da sua parte, já bateu recordes de presenças no clube, estando mesmo marcado já na história, e também de número de golos sofridos, igualando feitos com mais de 45 anos. Cada trabalhador é o reflexo do seu patrão. Têm de agir tendo em conta a mensagem que é passada pela sua hierarquia. Se a mensagem for de mentalidade vencedora e de superação, ele fará de tudo para vencer. Estamos a ver isso mesmo esta época. Tem pessoas que comandam as lides da sua equipa e clube, que querem mais. E mais. E mais ainda. E ele? O Rui quer mais. E mais ainda!
E está a mostrar que não é apenas guarda-redes de engates como muitos descrevem. Ele dá pontos. Muitos até. É injusto ter a conotação tão negativa sobre o seu desempenho ao longo dos anos, sem sequer adaptarem-se aos contextos das situações. Somos influenciados pelo contexto em que estamos inseridos.
Para um bem em comum, a da protecção do guarda-redes. Sempre. Ele merece o nosso respeito, é uma história de sucesso e de superação. Não é fácil alcançar o que já conseguiu. Ele merece esta Ode. Podem nem o fazer por gosto, façam-no por respeito e consideração.
Menções honrosas a Nelson Pereira. Quando se fala na mesma forma, tudo corre bem!