“Ai se fosse português… queria ver se iria haver tanta notícia e falatório”. Eis uma frase comum no dia a dia, aplicando aos guarda-redes ou a qualquer elemento do futebol. E tudo tem a ver com a nossa percepção de qualidade e do que está perante nós.
Não se vende a notícia de um clube grande português buscar um guardião jovem português. Mas de um estrangeiro já faz encher “feeds” e capas de jornais. A aposta num jovem português desde o início de época é pouco falado – tudo isto, claro, em comparação. Porquê? No mesmo clube isto aconteceu. É curioso certo? Svilar fez capas de jornais antes de chegar e depois de assinar. Isto com 17/18 anos. Bruno Varela ser aposta (apesar de, tem-se que ter em conta este contexto proprício à aposta) pela indisponibilidade de Júlio César por lesão. Mas certo é que tem sido titular e já fez uma mão cheia de jogos oficiais sem problemas de maior. E surpreendeu os mais cépticos. Não estamos com isto a desvalorizar qualquer guarda-redes. Mas as pessoas (auto) limitam-se na avaliação dos guarda-redes e uma das condicionantes é a da sua nacionalidade. Apenas isso.
A sobrevalorização dos “outros” ao invés dos “nossos” é muito cultural. É algo bastante típico da cultura portuguesa e acontece transversalmente no seu quotidiano. Pensamos, por exemplo, que “Madrid é tão encantador” quando o nosso Porto é considerada das cidades mais fantásticas para visitar que existe na Europa. É uma tendência tão portuguesa. Os bons estão lá fora, os nossos são para os demais valorizarem e não nós. Temos muito coração para os outros e não para os nossos. O dito popular aplica-se tão bem “a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha”. Ou então “só damos valor quando perdemos”.
Apupar é um mote, valorizar é um mito.
O povo português é algo esquizofrénico, em geral, quando é para elogiar um português no futebol. Parece que coloca a nacionalidade à frente da competência. E no sentido mais negativo possível. E por mais mostras de talento e capacidade que mostre, é sempre colocado em comparações inusitadas para se desvalorizar os seus feitos em vez de, se é para utilizar a comparação, ser em algo valorizador para a pessoa comparada. E isto é limitativo e condicionador para os nossos bons atletas portugueses.
Não indo muito longe, Portugal tem o melhor guardião de um Europeu (onde foi campeão) e a tendência “rivaleira” é fazê-lo ser lembrado pelos erros e não pelos êxitos. Claúdio Ramos tem sido figura de um Tondela “aflito para se manter” mas sempre com um guardião presente e competente. Quando perguntam porque não dá o salto, rapidamente lhe respondem “porque joga numa equipa “pequena””. É como a velha questão do jovem que procura o primeiro emprego e lhe pedem experiência. É preciso, por vezes, dar todos os passos desde a base para chegar além. São raros os que conseguem começar no topo.
Podiamos continuar neste registo mas a mensagem já foi percebida a esta altura porventura. Algo a pensar. Sou português… há problema? A resposta políticamente correcta seria “não” mas isso não acontece…