Na vida, há características que devemos ter para nos impormos. Se não vai lá com a qualidade intrínseca, têm de sobressair as capacidades psicológicas e os pequenos pormenores podem fazer a diferença. Contudo, algo necessário e crucial para isto em juvenis, não é tão bem aceite no futebol profissional. E para isso temos de falar de Svilar…

Têm vindo a público – sendo que, é preciso fazer um aviso prévio, que as palavras ditas podem ser ainda vítimas de contraditório – o “mau feitio” do jovem Svilar, recém reforço do SL Benfica. Isto porque o director desportivo do Anderlecht (seu antigo clube) referiu que o clube tinha um projecto para uma futura aposta no jovem guardião belga num prazo de 1 ano. O primeiro ano passava pelo empréstimo a um clube da mesma liga belga para ter minutos (algo que não tinha há alguns meses) e num nível de exigência maior e, no ano seguinte, se o rendimento fosse o previsto, assumir a baliza do campeão belga. Alegadamente, o guardião respondeu após ter sido dado o exemplo de um empréstimo ao Beveren como: “Eu? No Beveren? Não”. Algo do género, mas nem interessa muito reproduzir com precisão as palavras mas sim o que significam… Daí até ter viralizado a expressão do director desportivo de perguntar se ele era melhor que o Courtois ou Neuer….

A confiança é necessária. Mas para um jovem que apesar de todo o potencial ainda não provou nada no futebol profissional, não pode descair para a arrogância. E (in)directamente foi isso que mostrou. Hoje em dia neste meio tão competitivo, tudo é avaliado. E estas expressões e comportamentos têm impacto. Numa estrutura altamente profissionalizada como a do Benfica, como estas coisas poderão ser encaradas? Alguém que nada provou e diz que tem de ser titular e que empréstimos de clubes de menor dimensão não são para ele? Não é excesso de confiança… é arrogância. E ele tem toda a legítimidade de achar que deve jogar… mas tem de saber ouvir um “não”.

Dando só o exemplo de guarda-redes nos “encarnados”, falamos num espaço reduzido de tempo de Oblak, Ederson e Varela. O que tiveram em comum? O facto de serem emprestados para terem minutos e experiência de outro nível que não estavam habituados para regressarem mais fortes. Os dois primeiros resultaram na perfeição e o último, até ver, está a resultar. E até podemos recordar as míticas frases de Oblak a dizer que tinha de ser titular no Benfica. Não foi como e quando queria mas quando teve a oportunidade por infortúnio do colega de posto, assumiu a baliza e não largou. E hoje é um dos melhores do mundo. Teve, apesar da confiança, a paciência de esperar para mostrar que era tudo aquilo que dizia ser. E era mesmo. Mas nunca transbordou nesse período da confiança à arrogância. E isso talvez tenha sido essencial para o sucesso. Crença nas capacidades mas respeito por todos. E repetiu isso no Atlético Madrid quando soube esperar pelo seu momento.

Svilar tem um potencial em campo inacreditável. Mas tem mesmo. Mas se a cabeça não estiver alinhada e não crescer mentalmente com respeito pelas instituições que representa, mesmo que ache que é o melhor, não vai ter oportunidade de se mostrar. E esta pode ser a diferença entre ter uma carreira brilhante ou apenas uma carreira. A paciência é uma virtude e estes não são bons indicadores para alguém que quer muito jogar e mostrar-se, que acha que é o melhor… mas que nunca fez um jogo no futebol profissional como sénior. E tendo em conta este contexto, a humildade pode ser a chave até de, futuramente, uma aposta na baliza do Benfica. Mas terá de crescer e saber amadurecer… na sombra e a querer aprender. Já diz o dito popular: no dia que achares que sabes tudo, é quando nada sabes. E com isto quero dizer que se “descer” à equipa B para jogar ou ser emprestado a um clube de menor dimensão da primeira liga portuguesa, tem de aceitar com agrado e como um desafio de se provar a si mesmo e aos outros que merece os voos que sonha. E precisa dessa humildade.

Se a tiver, será um dos melhores porque tem tudo o que é preciso em campo. Mas o extra-campo é essencial hoje em dia para o sucesso pessoal e colectivo. Não é intenção – de todo – “cascar” no miúdo pois é alguém que sigo desde os 15/16 anos nos campos. Mas sim de se reflectir e ser um exemplo de como devem ser feitas as coisas para serem lições aprendidas. Os olhos estão todos postos em cima dele… ao mínimo passo em falso, os adeptos não perdoarão. E é preciso ter a qualidade em campo e fora do mesmo para sair por cima disso. E no clube encarnado terá todo um staff técnico e psicológico que poderão fazê-lo evoluir além das 4 linhas.

E fica o nosso artigo sobre as suas qualidades em campo (ver aqui) 

  • Gonçalo Xavier – A Última Barreira