Liberdade sim. Mas com limite e precaução. E para isso é preciso entender.

É importante que, independentemente da experiência do guardião, que seja bem comunicada a intenção e mais valia do processo que se quer implementar de “sair a jogar curto desde trás”. E essa mensagem tem de ser bem coordenada entre o treinador principal e treinador de guarda-redes para chegar na proporção certa ao jogador. Os jogadores muitas vezes, quando não percebem o objectivo de tal processo, questionam-se do seu propósito e a motivação para o executar é menor. E isso pode ser uma forte condicionante a uma boa execução de algo. Como tal, além de terem que entender com toda a informação possível que tal é benéfico para a equipa, têm de estar comprometidos a isso. E essa capacidade passa pela equipa técnica de passar a mensagem correcta. Há uma frase perfeita que ajuda a clarificar parte do sucesso ou insucessos de alguns trabalhos de equipa: “Ninguém destrói o que ajuda a construir”. E se reflectirmos, faz todo o sentido. Eu, como individualidade, nunca iria querer deitar abaixo algo que ajudei a cimentar desde a base. E é esse o pensamento que todos têm de ter na liderança de uma equipa, aplicando aos guarda-redes ou não. O guarda-redes é o limite do pensamento pois se ele falha… não estará alguém para o salvar a si ou à equipa que defende. É a chave do sucesso que quando está confiante passa essa mensagem indirecta à equipa e quando está no sentido contrário, frágil, incoerente e desconcentrado, é igual mas de forma negativa.

A liberdade é saudável e, num processo integrado de treino e jogo, esta é tida como um dos grandes pilares. Sem ele, não faz sentido o guarda-redes estar dentro do jogo. Mas, como tudo, é preciso moderação e inteligência na sua aplicação. Principalmente inteligência. Aliar a capacidade mental no discernimento de como pensar fazer as coisas como também a componente técnica na acção final que é o que todos vêem.

A capacidade mental também prende-se pela leitura da situação de jogo e do adversário. A auto-reflexão do que se pode e deve fazer para chegar ao objectivo. Pensar no processo que é treinado mas também no contexto que se encontram naquele momento. A exposição ao erro tem de ser controlada de forma a não se comprometer a equipa. O estado do relvado, o atrito e pressão efectuada pelo adversário, a própria confiança do atleta no momento…todas estas são condicionantes à acção. A liberdade é dada sempre com limites porque há consequências óbvias se esta for desrespeitada. Como tudo na vida quando não é respeitado…. Pode levar ao fracasso. E isso é algo que ninguém tem como objectivo.

Gonçalo Xavier, A Última Barreira