Artigo: Tenho um pedaço de relvado, duas bolas, nenhuma baliza e pouco tempo. Como irei treinar o meu GR?
A adaptação, invenção e personalização
Por Gonçalo Xavier, A Última Barreira
Talvez não esteja a dar nenhuma novidade para a grande maioria dos nossos seguidores, pois a maior densidade de treinadores de guarda-redes se enquadram neste contexto: poucos guarda-redes, pouco espaço, poucas bolas e, algumas vezes, sem baliza sequer. Como treinam? A imaginação e adaptação e, já agora, o aproveitamento das fragilidades de cada atleta e personalizar o treino para os mesmos evoluírem em tempo útil, no pouco tempo disponível para o trabalho específico por dia antes da dita “peladinha” que envolvem os outros colegas da equipa.
Porque o treino de guarda-redes, na sua globalidade, não é tudo o que pintam, de forma errada, tendo em conta como é divulgado pelas maiores páginas cheios de bolas, materiais, campo, balizas de várias dimensões e tempo para executar (ver artigo aqui sobre o assunto)
A realidade é mais crua e já foi referida em parte. Onde o planeamento é mais pessoal em vez de pensado para uma globalidade de guardiões (1, 2, 3 ou mais, no total) na verdadeira definição do planeamento – por exemplo à semana por contextos – mas feito sim à medida de cada guarda-redes onde em cada exercício é pensada uma sequência coerente, com as bases bem cimentadas, com progressão e onde os atletas possam trabalhar entre si.
Situação real de treino:
Imaginem-se numa equipa com meio campo para treinar em que o mesmo está ser ocupado pelo vosso treinador principal, e bem, em posse de bola e jogo colectivo. Onde está o trabalho com os guarda-redes (ou apenas um) que fica de fora? Ou onde só têm 15 minutos no início do treino com os guardiões… o que fazem além do comum aquecimento? Só podem fazer algumas variantes fechadas porque o intuito é aquecer o atleta para o que fará com o grupo depois. Isto é a realidade.
Pois, é mesmo esta a verdade, é com uma bola e num espaço de campo reduzido para não se intrometer no trabalho que está a ser feito com o resto da equipa. Ou seja, num contexto muito fechado. Mais analítico, e com menos decisão. Pode haver a última, mas terá de ser restringida a um espaço de acção curto para a acção do treinador e reacção/defesa do guardião.
E tudo o que não seja trabalhar decisão, é limitar o guarda-redes naquelas coisas que ele mais precisa (por exemplo, a noção de baliza e de espaço, tão importante num guardião tal como a tomada de decisão com várias condicionantes). Exercícios analíticos, mais fechados e “previsíveis”, podem gerar um guarda-redes tecnicamente bom mas com tomada de decisão frágil quando enquadrado com a pressão e contexto de jogo, pois não é estimulado como seria suposto caso tivesse uma área para treinar, por exemplo. E depois não lhe podem exigir que ele seja inteligente só porque tem um treinador de guarda-redes a acompanhar. Sem recursos, o trabalho fica limitado no seu objectivo à partida. E estas interpretações de jogo são trabalhadas, se existir vontade para isso e material… tão simples quanto com uma bola, uma baliza e uma área. E já ajuda (muito).
A capacidade de chegar a um treino e saberem que todo o possível planeamento foi por “água abaixo” e teremos que inventar algo para ser produtivo para eles, guardiões, é complicado. Mas bastante desafiante porque é um processo de recriação constante e adaptado a cada necessidade específica do guardião. E isso é algo bastante produtivo para todos no processo: no treinador que melhora capacidades no desempenho das suas acções e do guarda-redes que vê mitigadas (ou pelo menos trabalha nesse sentido) as suas maiores lacunas.
E esta é a realidade mais comum no treino de guarda-redes n/profissional, que é o que mais temos acesso. Sem análise de video (os que não podem), sem espaço, sem bolas, sem balizas… e pior, para alguns… com poucos guarda-redes, e esses sem bases pela falta de acompanhamento no seu percurso. E este processo de (re)criação é exigente mas prazeroso porque no fim, se tudo der certo, iremos ver o trabalho feito com o GR a ter resultados nele. E no futuro já serão essas as bases para outros treinadores trabalharem esses atletas. E o objectivo, lembrem-se, é valorizar o guardião. Nas suas componentes mais diversas, técnicas, físicas, mentais. É isso que importa. E ele sentir-se valorizado pelo treinador e pelo feedback no treino de forma contínua e coerente. (tão importante, vejam este artigo do mister João Garcia)
Por Gonçalo Xavier, A Última Barreira
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