Quem é Koubek e o que vale em campo? Algumas considerações…

É apontado como reforço do FC Porto, por quase toda a imprensa, e é importante conhecer o guardião… além da capacidade de defender penaltis que fez capa há dias (será que tem?)

É importar falar que em poucos dias são falados dois perfis de GRs idênticos para a baliza portista: reactivos, altos (acima de 1.95m), de leste e com internacionalizações pelos seus país. O outro foi Greif que analisamos aqui: (ver aqui)

Koubek joga no Rennes (Ligue 1), é internacional pela República Checa, tem 1.97m e 26 anos de idade. Está valorizado em perto dos 5M… e, como é um investimento para ser “número 1”, em teoria, é necessário uma atenção maior.

“A linha da baliza é minha, o espaço é dos meus colegas. Eu evito o que sobrar do que eles não conseguem interceptar” – podia ser isto a sua descrição. Muito defensivo, com pouca tomada de decisão integrada com a visão de antecipar e sempre à procura de receber remates para ser parte activa do jogo. Porque ele entra no jogo dessa forma: a evitar golos. E fá-lo bem normalmente. A estes guardiões chamam-se de “reactivos” ou o inglesismo de “shot-stopper”. Não lhe peçam para sair da sua zona de conforto porque provavelmente não correrá bem. Por falta de estímulo nesse sentido ou por inaptidão (ou as duas juntas) não é capaz a curto prazo de oferecer essas soluções, principalmente no espaço nas costas da defesa.

Responde aos remates com o corpo baixo e procura ser minucioso nos posicionamentos, principalmente quando a bola está a uma distância curta. Tem dificuldade em deslocamentos que exijam uma maior passada (para a frente ou lado) e, até por isso, tenta responder aos estímulos através do posicionamento no campo (geralmente recuado) mas sem fazer ajustes perante uma bola coberta ou descoberta. Já evoluiu no próximo entendimento do jogo – já percebe que, se não consegue, mais vale não tentar antecipar e colocar a sua equipa em risco – e nos movimentos em campo, estando mais capaz no momento do deslocamento.

Para ele a solução a adoptar na posição base será a mesma e não varia o corpo mediante estas mudanças de contextos. Como gosta de estar dentro do jogo, por vezes permite segundas bolas após a primeira defesa a um remate. A prioridade dele é evitar golos e por vezes não tem as maiores formas e técnicas para a mesma. E onde isto se nota muito é no momento do cruzamento onde não impõe o seu porte atlético e onde permanece na linha para evitar os remates seguintes. Como é grande e tem algum sentido posicional, muitas vezes é capaz de evitar o golo mas passa o controlo dos lances sempre para o adversário, não sendo ele proactivo em tentar antecipar (muitas são as vezes que tenta adivinhar, algo diferente do conceito anterior) e assim garantir o sucesso antes de um remate. Mas com a evolução que tem vindo a ter, pode ser algo que ganhará com o tempo e boas vivências em jogo e treino e nisso Portugal é fértil em potenciar GRs para o nível da decisão… e mais ainda num FC Porto, que é o que se fala para o seu futuro.

Aparenta sempre estar focado e permanece calmo, no sucesso ou insucesso (individual ou colectivo) sendo de um perfil mais linear ao nível dos comportamentos em campo, não sendo muito expansivo. Mas só aparenta, pela comunicação não verbal, pois as acções nem sempre denotam a maior confiança ou serenidade, dependendo muito de como está a correr o jogo.

Com os pés tem potência no pé direito e procura jogar a bola com leituras lentas das linhas de passe mas a procurar a jogada corrida desde si. Mediante o maior conforto no jogo pode soltar-se com os pés e ousar algo mais, mas não é das suas maiores virtudes. Com o esquerdo só dá para jogar a curtas distâncias e o direito sabe jogar em maior amplitude e, até por isso, colocar as defesas contrárias em sentido e recuarem metros…

É um guardião inacabado e em estado de maturação. Teve alguns episódios infelizes fora de campo, principalmente quando ainda estava no seu país, mas foi ganhando maturidade, sendo que a experiência em França fez muito por si, até a nível social (além da melhoria no campo). E em campo é a mesma coisa, entre decisões que o façam tirar da zona de conforto e que não gerem sucesso… mais vale ter uma postura mais retraída e reactiva. E isso pode ser um entrave numa equipa como o FC Porto que procura, sempre, no seu GR um líder, um grande defensor da baliza mas alguém capaz de se integrar nos momentos mais ofensivos da equipa. Onde Koubek pode encaixar na equipa portista, na dinâmica do GR com a equipa, é no pontapé forte e longo que possui. Pode procurar muitos espaços nas costas contrárias e potenciar a velocidade e força dos colegas na frente. E isso é talvez o maior “upgrade” a Iker Casillas tal como uma maior qualidade no momento do 1×1 defensivo (cobre bem os ângulos, sabe reagir e onde fixar antes do remate), principalmente por ter um raio corporal maior, isto por comparação com o seu antecessor que era mais baixo e com centro de gravidade mais curto.

Mas é um guardião que não tem as maiores provas dadas na Europa mas que, com o devido estímulo – porque até já mostrou essa predisposição, principalmente em França, para aprender coisas novas, com resultados visíveis – pode atingir a maturidade mais plena, e conhecer-se melhor individualmente, em 1/2 anos. Mas a questão é… será que existe esse tempo?

A importância do contexto e como se adaptar ao mesmo…

As acções que um GR de um “dito grande” em Portugal são mais estimuladas é no momento ofensivo – passe, controlo da profundidade, p.e – cruzamentos. Sendo ele um guardião de índole reactiva terá de controlar muito bem o momento da defesa da baliza – onde tem boa capacidade – para conquistar a equipa e adeptos. A tal preocupação em “ser muito bom em algo em vez de razoável em muitas coisas”, será talvez o pensamento de Koubek. E pode dar essas garantias no momento defensivo mesmo sendo de uma índole mais contrária ao exigido num clube com este pensamento de que o GR não é para defender… mas evitar defender. Como se consegue isso? Com uma grande liderança, capacidade de comunicação e controlo do espaço. E são momentos em que Koubek terá de trabalhar e insistir muito.

Um bom valor, pode fazer o seu caminho de relativo sucesso, mas não é um guardião muito bom, mesmo para o contexto de liga portuguesa. Resta saber qual é efectivamente o plano para a baliza do FC Porto neste ano, na gestão do microgrupo de GRs, como nos próximos anos. E terá a difícil herança de Casillas para batalhar… e essa passagem de testemunho, por tudo o que aconteceu, foi atribulada e pouco natural. E vai ter que aprender muito em Portugal para ir conquistando os adeptos que, com o seu ar descontraído e imponência física, pode fazer (apenas pelo exterior) essa conquista.

E uma nota à parte: para quem dizia que Koubek era especialista em penaltis… não creio. Procura adivinhar o lado, mais do que esperar e perceber todos os momentos antes do remate, como a análise do batedor, como coloca o pé de apoio, para onde olha (e se olha ou não), etc. Atira-se com convicção para o lado que adivinha, mas não tenta antecipar. E isso não pode ser considerada uma qualidade. Mas claro, já defendeu alguns penaltis… mas a eficácia não é digna dessa adjectivação.

Seguem algumas das boas defesas que fez nas últimas épocas:

  • Gonçalo Xavier, Fundador e Gestor d’A Última Barreira