Transição defensiva do GR com uma bola no espaço. Como e quando fazer? (Análise)
O exemplo de Ederson Moraes nos quartos-de-final da Liga dos Campeões 19-20 contra o Lyon, na derrota dos ingleses por 3-1.
Tão necessário quanto pedir um GR mais agressivo na abordagem ao espaço, é necessário de igual forma – porque a prioridade de um guarda-redes continua sempre a ser a defesa de baliza – garantir uma transição entre momentos mais linear e que ele as entenda e aja em conformidade para a defesa de baliza. Porque tão importante, num guarda-redes que se quer mais “ofensivo”, quanto fazer o GR cortar uma bola fora da área, é ele saber transitar para garantir a defesa de baliza se não estiverem garantidas as condições para a sua saída da área em antecipação. Saber ir é tão importante quanto saber ficar. E isto também é tomada de decisão… e é trabalhada.
Vamos partir então o lance…
Bola descoberta na linha lateral, quase à entrada do meio campo do Man City, e uma linha defensiva inglesa perto do meio campo super subida. Podia isto significar um GR alto e basculado (orientado, na largura, um pouco além do centro para o lado da bola), que é o que acontece. Com mostram as seguintes imagens:

Bola descoberta, com um passe no meio campo contrário na largura e com um homem contrário em zona central a ameaçar a profundidade. Linha defensiva inglesa “alta”.

GR com a tal basculação, para o lado da bola, em comparação com o centro
Aqui entra outro ponto de reflexão. Vamos manter o critério de analisar os 10-15 segundos antes do remate e ir “partindo” as pequenas decisões e acções do GR para se encontrar o ponto de melhoria e o que originou o golo contrário.
Apesar da perspectiva destas repetições nunca mostrarem “o início” do GR, dá para ver a certo momento que quando a bola está em trajectória aérea, Ederson dá um passo em frente e fixa. A bola fica “curta” e acaba no pé do avançado que recebe de forma orientada e com um defesa que estava perto.
Ederson manteve-se alto, na perspectiva de vislumbrar um “1×1” defensivo. E foi esta a tomada de decisão, a seguir ao tal passo “em frente” que deu com a bola aérea que o traíram. E depois ficou descontrolado o lance e à mercê do adversário de explorar. E traíram porquê? Justificava, como grande perigo contrário para procura do golo, um posicionamento tão alto quando o avançado ainda está fora da área e tem um defesa perto? Talvez nem tanto.
Esta foi a análise dele e bastante perceptível. Mas talvez não compense o risco de buscar um 1×1 o mais “à frente” possível com um avançado que tem como pé preferencial o direito e domina “para fora” onde seria usado o pé esquerdo, e ainda por cima com um central perto.
Portanto pontos de melhoria que devem ser adoptados para se evitar “transitar” com a bola dominável pelo adversário:
- Entender claramente a trajectória da bola e tudo o que está em volta, principalmente avançado contrário e se há ou não defesa perto e iniciar aí a transição defensiva (2-3 metros atrás).
- Evitar passos em frente com uma bola aérea. O ajuste, a ser dado, é sempre melhor atrás que à frente numa bola no espaço. O ideal será sempre encontrar um ponto para fixar equilibrado para poder sair fora da área ou conseguir transitar defensivamente no menor número de metros possível. E voltamos a relembrar que é mais fácil correr de trás para a frente que de frente para trás.
- Podem, e bem, referir que o avançado podia dominar mal e que a bola podia sobrar para um corte mais à frente possível de Ederson. Mas olhando as distâncias, provavelmente se isso acontecesse, chegariam os dois ao mesmo tempo. Podia surgir facilmente uma falta do GR e ser assim expulso. Voltamos a dizer, não compensa o risco e esta análise das probabilidades.
E porque estamos a pegar tanto na questão da transição defensiva? Simples. Porque o central após o domínio do avançado cortou a bola e foi aí que Ederson Moraes iniciou a transição defensiva. Correu “de costas” super desequilibrado e pouco preparado para qualquer remate e quando o remate surgiu com o ângulo aberto, não conseguiu ter reacção para defender.
Pode-se achar que o erro esteve, unicamente, neste correr de costas com uma bola a ficar dominável e pronta a rematar pelo adversário e que ele assim perdeu qualquer tipo de reacção para a defesa, mas esse foi apenas o último dos problemas na tomada de decisão e acção do guardião. Aí já ia tarde, mais que procurar transitar e estar em movimento num possível remate, seria melhor (e seria um erro à mesma, mas podia servir como uma cola com água para algo já partido) apenas bascular e fechar o ângulo aberto. Mas o descontrolo do lance foi alguns segundos antes.

O tal “correr de costas” que deixa o ângulo aberto do poste perto para haver remate
O jogo de Ederson Moraes não foi bom, e muitos podiam apenas olhar ao último golo sofrido – em que larga a bola para a frente e permite uma recarga para o 3-1 – mas esse é um erro claro de ordem técnica e é melhor reflectirmos para aqueles menos perceptíveis a olho nu. Este é um dos casos onde o guardião brasileiro tem tido problemas nos últimos tempos, como já tínhamos escrito aqui: (ver artigo)e aqui também, no nosso Twitter (ver aqui)
Tudo tem um ponto de análise e melhoria e, principalmente, de reflexão. Dêem-nos a vossa opinião sobre este tema e onde incidiam o vosso feedback para se evitar estes problemas. Se falariam no “ponto” final ou nas vírgulas antes.
Vídeo do momento:
Por Gonçalo Xavier, Fundador e Gestor d’A Última Barreira e treinador de GR