Quem é Antonio Adán que agora chega ao Sporting CP? É para jogar “já”?

Antonio Adán, 33 anos de idade, 1.90m de altura. Com formação no Real Madrid, esteve no clube mais de 15 anos. Saiu do clube em 2013 para estar entre Cagliari (Itália) e Real Bétis, onde teve os melhores anos da sua carreira. Internacional jovem por Espanha durante muitos anos, não chegou a ser internacional A por Espanha.

Na sua última época no Real Madrid, foi o guarda-redes que se seguia depois de Iker Casillas e Diego Lopez. E isto foi uma constante nos grandes clubes, neste caso de Madrid, onde esteve: sempre foi o suplente, com alguns minutos nas temporadas, de grandes guarda-redes a nível mundial. Iker Casillas no Real e Oblak no Atlético.

Até por isto, para uma melhor avaliação e caracterização do guarda-redes, é importante perceber os diversos momentos ao longo da sua carreira, tendo mais ou menos minutos e percebendo o seu papel na dinâmica colectiva das suas equipas. Sendo assim, iremos analisar Adán do Atlético Madrid (2018-20), no Bétis de Quique Sétien (2017-2018) e nas restantes temporadas no Bétis (2013-2017).

Como é apanágio nestas análises, antes de ver as defesas, vamos primeiro ver os golos sofridos e os erros directos. Acreditamos que se sabe mais sobre o guarda-redes nos seus piores momentos que nos melhores. Na junção dos dois está uma análise mais robusta e menos falível. Como tal, vamos mostrar primeiro (pelas zonas de remate) os golos sofridos em cada período acima referido, dos problemas e depois das suas maiores valências:

Adán – Atlético Madrid 18-20

Adán – Bétis de Sétien 17-18

Adán – Bétis 13-17

 

 

 

 

 

 

 

E porquê esta divisão? Porque não é o mesmo, nas funções e responsabilidades, de um guarda-redes numa equipa bem organizada defensivamente e que se faz diferenciar por isso, com uma equipa mais “exposta” de mais responsabilização para os diferentes jogadores e que tem mais finalizações e mais transições. Daí a divisão do período do Bétis – antes de Sétien e durante – porque até essa mesma diferença ajudou Adán a assinar contrato pelo Atlético Madrid e depois o percurso mais actual na sombra de Oblak no Atlético.

O que dá para ir vendo por aqui: um grande volume de finalizações dentro da área, como seria normal, mas difere nalguns apontamentos:

  • No Atlético, equipa mais competente a nível defensivo, com golos sofridos em zonas centrais entre final da pequena área e final da área (entre bolas paradas defensivas e remates exteriores)
  • No Bétis de Sétien com maior dominância de golos sofridos em zonas centrais e principalmente em transições defensivas numa construção da equipa de risco em zonas centrais.
  • No Bétis antes de Sétien – num maior número de jogos em comparação com os dois períodos seguintes, com uma grande abrangência de zonas de remate contrário, indo além de zonas centrais e… com um grande número de finalizações fora da área.

E aqui é o ponto que queríamos pegar inicialmente: As questões de transição defensiva são os pontos mais problemáticos no jogo de Adán. Seja na forma de deslocar, no timing de início de deslocamento e para onde deslocar, é algo que pode ser preocupante agora que pode ir para uma equipa onde pode jogar mais que jogou no Atlético – e vai acontecer, certamente – mas também pode ser corrigível com essa maior regularidade de minutos, e onde o GR tem muitas das suas acções nessa tal transição defensiva. O estímulo ajuda ao engenho e a prática ao sucesso. E até por estes constantes deslocamentos e posicionamentos menos consistentes é que surgem tantas finalizações fora da área com sucesso desde os momentos mais antigos até à actualidade. Se o adversário vê o GR alto, pouco preparado para defender e em deslocamento, é tentador tentar rematar…

E por vezes fica muito alto no posicionamento na área após essas transições defensivas, tendo menos margem para agir perante os remates. Como é tem uma boa capacidade atlética lateral, compensa em parte o problema.

Outros problemas por inerência, são o de constante movimento/deslocamento e o equilíbrio corporal antes e após o mesmo para executar determinada acção (principalmente na defesa de baliza). Com dificuldades, como já referimos, no deslocamento à retaguarda e de aproximação (atrás e à frente, respectivamente) tem no deslocamento lateral um bom movimento mais consolidado e que lhe garante sucessos. Mal corrija estes pormenores antes da bola lhe chegar, pode subir de patamar. O equilíbrio, a postura corporal, o saber estar e onde estar, são essenciais para o grande sucesso de um guarda-redes – e principalmente de equipa “grande”, porque a bola não lhe chega com tanta frequência.

Em tempos, cremos ter sido Frans Hoek, que dividia os GRs entre os de antecipação e de reacção, podemos dizer que Adán tem a segunda índole mas preferimos descrever como um guarda-redes com uma tomada de decisão de boa consistência em curtos espaços mas com dificuldades em espaços maiores e prende-se sempre pelos momentos de interpretação da transição e, também, pela questão do primeiro posicionamento (onde e como?). 

E por aqui pode ter crescido alguma coisa – temos poucos dados nesse sentido, porque foi reduzido o número de minutos e sequência dos mesmos no Atlético – com Jan Oblak (a ver, e fazer com ele). Pois é alguém que domina as questões posicionais no espaço e do corpo e equilíbrio do mesmo para pensar e depois agir. E dos poucos minutos que teve, parece mais estável nesse sentido… mas com um bom caminho por percorrer ainda.

Se há coisa que Adán teve muito e bom na sua carreira foram os treinadores de guarda-redes. Entre Real Madrid, passando pelo Bétis, até ao Atlético, teve alguns dos melhores na área a nível internacional e agora não será excepção: vai participar numa dinâmica de dois treinadores de guarda-redes, com Jorge Vital (contratado ao SC Braga) e Tiago Ferreira que se mantém da temporada transacta. E esta dinâmica é essencial para o aumento de repetições do GR e também na quantidade e conteúdo de feedback para a sua melhoria desde o pormenor individual ao movimento mais colectivo. Geralmente esta dinâmica dá para ter um treinador no analítico e individual e o outro na parte integrada com a equipa. E assim se podem criar exercícios e passagem de mensagem de conteúdo mais preciso em comparação com apenas um treinador que tem de ter o olho e mãos para diferentes atletas ao mesmo tempo.

E estamos em crer que, mesmo com 33 anos, se tiver predisposto a isso… que vai conseguir melhorar o seu jogo e ser mais guarda-redes do que foi até hoje. É tudo uma questão da sua proactividade e vontade nesse sentido, pois o acompanhamento e contexto que vai ter são óptimos para a aprendizagem. As capacidades atléticas, laterais principalmente, e técnicas estão lá, falta uma melhor estabilização mental e principalmente táctica.

O que aconteceu nestas suas duas últimas épocas – e reiteramos, a falta de estímulo pode gerar mudanças no atleta – foi que deixou de ter assim tanto espaço para dominar e agir, para um GR mais “à retaguarda” e de menos responsabilidades. E isto aos poucos minutos que teve… pode ter entraves a curto prazo na integração da equipa do Sporting CP. Mas os guarda-redes são conhecidos como “bichos” de adaptação e pode ser que consiga facilmente chegar ao ponto em que esteve com Sétien num modelo mais idêntico nas funções do GR em comparação com o que era com Simeone. Porque será isso o exigido a um GR de uma equipa de Ruben Amorim.

E aqui entram algumas capacidades estimuladas no tempo de Sétien que podem ser úteis já a curto prazo. Se se pode dizer que a sua época nesse ano teve muitos golos sofridos e tudo o mais, também se pode dizer outra coisa: foi a temporada onde teve maiores responsabilidades – e isso, claro, acentua muito a quantidade de erros seus e dos colegas – e isso gera uma maior evolução. Tanto evoluiu e se destacou mesmo assim que assinou contrato pelo Atlético de Madrid. Se ele tivesse mais um ano com Sétien, talvez pudesse consolidar algumas das coisas que ainda estavam por corrigir como aquelas que já mencionámos. E aqui entra uma coisa que lhe vai ser necessário na chegada a Portugal e ao modelo de jogo de Ruben Amorim: capacidade com os pés.

É um guarda-redes que assume essa responsabilidade e que sabe executar principalmente a curta distância, carecendo alguns ajustes a média distância para a largura. Terá de melhorar a parte comunicativa do seu jogo para saber pedir e orientar a equipa para as melhores zonas a receber, mas o seu pé esquerdo executa bem por norma. E certamente é por aqui que o treinador mais sorri com a chegada de Adán pois é uma alternativa/solução válida para essa tarefa do guarda-redes, tal como pela sua ética de trabalho e complexão atlética nas suas acções.

Na defesa da profundidade é competente, mas não será por aí que se superiorizará a Max que tem nessa capacidade uma das suas valências. Adán é bastante agressivo na abordagem fora da baliza, daí referirmos anteriormente que o problema se prendia mais nos momentos de aproximação (e como) do que na agressividade e convicção de o fazer.

Algumas das suas melhores defesas no período de 2 anos no Atlético de Madrid:

Traçado o perfil do guarda-redes, nas suas capacidades, problemas e potencial, é preciso neste caso em específico fazer outra coisa: e como se compara ou se superioriza a Luís Maximiano?

André Paulo (ex Real SC), Adán (ex Atlético Madrid) e Luís Maximiano

Luís Maximiano fez a sua estreia na equipa principal na temporada passada e soube corresponder pós Renan Ribeiro. Quando pesamos o facto de estar em estreia, numa temporada que não foi boa a nível colectivo, que teve muitos treinadores principais e equipas técnicas, nunca é fácil estabilizar. E mesmo assim, foi uma boa figura na temporada. Mas o nível médio da mesma, comparado com o resto da equipa, não foi alto. Mas ele apresentou requinte técnico, multiplicidade de recursos (mesmo com alguns erros pontualmente) e consistência táctica, percebendo-se claramente os espaços em que pisava (e porquê).

O jovem guardião português acabou a temporada como incontestável e entra nesta nova época como titular em consolidação. Contudo esta chegada de Adán pode desafiar o status-quo da baliza leonina. E vai fazer isso, seja em treino ou em jogo, ficando a convicção que o guardião espanhol terá (muitos) mais minutos que na temporada passada. Seja a fazer taças e Europa… ou Liga. Vai haver uma maior rotatividade na baliza leonina (de forma mais deliberada e consistente) e todos podem ganhar com isso.

O Sporting CP tem em Max um bom activo para jogar, valorizar e vender se assim tiver interesse e necessidade. Como tal, e como já apresentou rendimento passado, merece esse voto de confiança. Esta competitividade na baliza vai ser boa para todos crescerem e garantir que cada um dá o seu melhor individualmente e colectivamente. Não estamos em crer que possa ser vendido já antes da época começar mas é um cenário que pode ser possível pelo mercado que tem, achando o clube um activo “barato” e com alguma fiabilidade para o posto como Adán.

Em traços gerais:

  • Adán pode oferecer mais maturidade, capacidade atlética, técnica com os pés como primeiro construtor. Tem um grande domínio em espaços curtos.
  • Max pode oferecer mais capacidade comunicativa e táctica, quando se pede a um GR mais espaço para dominar e mais funções a ter. É também mais competente nas transições defensivas, seja na forma ou no momento de o fazer, tal como o espaço em que se deve deslocar.

E como tal, sendo guarda-redes com valências tão distintas na sua diversidade, podem facilmente coexistir na mesma baliza.

Fica a previsão que certamente não haverá um titular maior durante a época e que vão distribuir muitos jogos entre si, seja para quais competições for. E um treino com estes dois guarda-redes de grande ética de trabalho e capacidade de superação… podem evoluir muito um com o outro. Portanto respondeu à pergunta do título: Adán pode perfeitamente jogar já… mas não será, certamente, o guarda-redes a tempo inteiro do Sporting CP 20-21. Resta saber em que momentos irá jogar.