#31 Chegou para brilhar e vencer: Hugo “Neneca” Souza tem um perfil distinto para ser dos melhores! (Análise)
Análise por Gonçalo Xavier, Fundador e Gestor d’A Última Barreira e Treinador de GR
Da Geração de 1999 (21 anos de idade) e internacional jovem, Hugo “Neneca” Souza é uma das maiores promessas das balizas brasileiras – e internacionais – e que começa a ganhar o seu espaço no atual campeão brasileiro, Flamengo, aproveitando a lesão de Diego Alves… e ultrapassando César. E tem correspondido, no “alto” dos seus 1.99m de altura. Pela formação, principalmente em U20, conquistou todas as competições nacionais pelo Flamengo e é internacional jovem pelo Brasil, sendo sido já convocado para a seleção principal, dando mostras que é aposta presente e futura para o Brasil, tal como é no seu clube atual.
Carrega em si, na atualidade, o simbolismo de anda não ter perdido esta temporada com o Flamengo e já com jogos entre Brasileirão e Taça dos Libertadores. A exigência tem subido, em jogos sucessivos com poucos dias de descanso e tem correspondido. Com erros, certo, mas mais acertos e decisivo para os desfechos finais nos jogos. E podem ver aqui, de seguida, as suas melhores defesas nas últimas semanas, antes de entrar na análise do guardião:
O atleticismo e a proatividade como aspetos diferenciadores (e caros, no mercado atual, tal como o seu perfil morfológico):
“Neneca” tem, como referido, 1.99 de altura. Quando se esperava que fosse mais lento e menos elástico… é exatamente nisso que se diferencia, tal como uma grande abrangência de recursos que tem confiança nas mesmas para resolver os problemas que aparecem no jogo para o bater. E tudo isto em conjunto dá-lhe uma “aura” de imbatibilidade mesmo sendo muito jovem.
Com posicionamentos “agressivos” na colocação no campo, dois ou três passos fora da linha de golo, é capaz de cortar as trajetórias da bola quando é disparada à baliza – e se se tem essa posição, no campo, mais alta, é suposto ter esse intuito garantido: defender a bola durante a trajetória, ao invés de estar na linha de golo e ter mais tempo e espaço para agir e defender.
Parte muitas vezes com o corpo mais baixo – relativamente ao centro de gravidade do seu corpo – e com as mãos a partir de trás do seu tronco em jeito de “balanço” e impulsão. Ora, apesar de ter sucesso muitas vezes mesmo com estes dois pontos menos positivos no que diz respeito ao seu corpo, são identificados por nós como pontos claros de melhoria e que lhe dariam mais eficácia tanto para bolas mais rápidas rematadas rasteiras ou mais altas e “puxadas” com uma trajetória em arco. Tendo o corpo mais alto, consegue compreender tudo melhor à sua volta, perceber de forma mais precisa a bola e também, com o auxílio das mãos mais preparadas para defender… estaria mais perto do sucesso a longo prazo. Muitas vezes compensa estes problemas pela sua enorme velocidade de movimentos e, claro, a amplitude que possui pela sua envergadura conferida pelos seus 2 metros de altura e 95kg.
Este exemplo é claro do que acabamos de apontar. Ele acaba por sair, ao segundo poste, com sucesso pelas suas capacidades atléticas acima da média. Mas a forma como tem o corpo e braços não lhe permite ver nada – e ele nas imagens anteriores ao cruzamento, não vislumbra os movimentos ao centro e segundo poste da sua defesa e equipa contrária – além da bola e dessa zona. Tem sucesso na acção, porque é extremamente rápido a reagir ao estímulo e uma grande amplitude e domínio do espaço em seu redor aliados, claro, à confiança no momento que ajudam. Mas se formos rigorosos na componente teórica, na posição base, não está bem.
E vislumbrar imperfeições em Hugo Souza é um exercício muito complexo, mas tínhamos de destacar estes aspetos porque é facilmente corrigível – ou pelo menos testável, para o guardião entender o que para si é melhor e essencial, pois é ele que tem que ter esse conforto para depois agir em conformidade e com eficácia – mas que podem ser altamente vantajosos para a sua consistência ao longo do tempo, diminuindo assim o número de erros (e golos sofridos, por inerência) e também para a sua imposição na alta roda dos guarda-redes a nível mundial.
A falácia dos seus problemas no jogo aéreo:
Percorrendo os comentários dos fervorosos adeptos brasileiros, constata-se uma grande preocupação – principalmente dos adeptos do Mengão – sobre a sua (in)capacidade no jogo aéreo. E porquê? Porque falha alguns tempos de saída. Não podiam estar a ver isto da forma menos aconselhável… Porque é exatamente por aí que Hugo Souza pode ser distintivo de todos (principalmente do perfil do guardião brasileiro mais reativo que de antecipação). A sua facilidade em deslocar, em conquistar espaço e também toda a sua amplitude corporal, podem fazer de si uma referência a nível mundial. Mas para lá chegar, vai errar algumas vezes. Não existe progressão sem tentativa e erro e superação do mesmo. E se já errou (bem verdade) esta mesma temporada no ar – ainda esta semana teve uma má saída que deu em golo – todas as ações de suporte e de estímulo para sair fazem sentido e vão ganhar consistência ao longo do tempo. Ele já possui a vontade (algo raro atualmente onde os guarda-redes se resguardam mais para procurar logo a defesa de baliza em vez da saída ao cruzamento ou bola aérea) e as capacidades atléticas de suporte à ação técnica final (agarrar ou desviar no ar). Haja tolerância dele, consigo mesmo, para continuar a tentar e fazer e dos outros perante si mesmo.
Contudo… onde residem os seus maiores problemas no jogo aéreo não é no ponto final (saída ou não concretizada) mas nos pontos prévios (onde está, como está no campo e no corpo). Se já falámos em dois problemas como baixar demasiado o corpo, muito orientado para a bola – em vez do jogo – e as mãos atrás do tronco, podemos acrescentar a componente tática de estar muitas vezes em cruzamentos feitos mais na largura do campo muito junto ao primeiro poste e sem uma visão completa de tudo o que o rodeia e, claro, dele assim poder dominar também o espaço central e ao segundo poste. Existe esse pequeno ajuste que, novamente, seria muito benéfico para evitar erros no tempo de saída principalmente.
Podem ver aqui alguns exemplos das suas saídas, e facilidade em deslocar e defender, no 1×1 e em cruzamento, tal como de cortes fora da área como último defensor:
“Sim, mas como joga ele com os pés?”
Podia ser uma pergunta colocada neste momento, principalmente quando já referimos que é das maiores promessas a nível mundial para as balizas. Não é tão sobredotado assim com os pés quanto os maiores na Europa (e no Brasil, com Ederson e Alisson como referências maiores), mas esta época no Flamengo com Dome Torrent (treinador) pode-lhe ajudar muito na melhoria das ações técnicas e também decisão antes das mesmas (para onde jogar, em que momento, etc). Ou seja, é daquelas capacidades que podem ser muito bem estimuladas no trabalho específico com os guarda-redes mas onde ela é mais potenciada é no integrado e com aumento de repetições e referências e tipos de pressão, tal com o aumento do espaço.
Com referências positivas ao seu pontapé longo e lançamento rápido, tem margem de crescimento, principalmente a jogar com pressão. Fecha muito os apoios e assim perde a visão a 3 corredores para lhe conferir variabilidade no passe e cortar a primeira fase de pressão contrária, quebrando com um passe as linhas atrás da mesma. Para passe curto em largura, receção ou um simples bater da bola, o seu pé não dominante (o esquerdo) tem eficácia mas não o suficiente, por exemplo, para fazer um passe no “6” muitas vezes com pressão. Não possui essa bilateralidade, podendo essa alternativa ser executada com o pé dominante (direito) mas onde precisa de estar muito confiante para executar.
Exemplo disto temos os seus passes (na totalidade) no último jogo contra o Corinthians:
O seu passado e meio familiar como referências do ser humano, com implicações no seio social:
Não há muito tempo que o seu pai, eterno seguidor e apoiante da sua carreira pessoal e profissional, partira. Hugo Souza, nas suas redes sociais após um dos jogos na equipa A do Flamengo escrevia que tinha sido para si difícil jogar aquele jogo sem o seu pai perto. E este é um pequeno (grande) exemplo da qualidade do ser humano, tal como a gratidão a todos pela oportunidade que tem hoje de ser feliz a fazer o que gosta e de estar no seu palco sempre idealizado. E isto, no seio social de um clube e no caso de uma equipa, tal como todas as dificuldades pelo qual passou na sua vida… é que conferem um guarda-redes, hoje, com muita capacidade de superação, principalmente aos seus erros, e que irá sempre dar tudo pela equipa e para justificar esta oportunidade.
E querem melhor adição ao balneário que esta? Neneca é hoje praticamente unânime no clube e, convenhamos, também para os restantes adeptos brasileiros. E foi a sua presença social que ajudou a essa imagem positiva que existe sobre si. E alguém que muitos falam em alegre, companheiro e muito fiel aos seus princípios e espaço que representa e dignifica. E possui em si uma liderança pelo exemplo e pela sua postura em campo e claro… pela imensa qualidade que tem.
Em suma, é um guarda-redes – e é uma repetição isto – de grande potencial a nível mundial e que neste momento já tem rendimento, mesmo com apenas 21 anos de idade. Diego Alves, até à sua lesão titular, certamente já não terá o mesmo volume de minutos na equipa tendo sido relegado para o banco de suplentes quando estiver saudável. E justifica-se… não há motivo para “tirar” Neneca da baliza do Flamengo neste momento. E a “Canarinha”, na sua seleção principal, ou Jogos Olímpicos estão à porta para ele se mostrar e se destacar. Vale a pena cada jogo visto. E sempre com aquele brilho no olhar e sorriso de quem é feliz de luvas postas e na baliza.