(CRÓNICA) Taffarel no Liverpool para ajudar Alisson: Para lá da qualidade e competência também uma questão de ética
É uma das notícias da atualidade no treino de guarda-redes a nível mundial: Taffarel vai-se tornar também ele treinador de guarda-redes do Liverpool, alegadamente a pedido de Alisson Becker e irá-se juntar aos dois treinadores de guarda-redes já existentes no plantel principal da equipa inglesa: John Achterberg e Jack Robinson.
E irá fazê-lo enquanto se mantém como treinador de guarda-redes da seleção brasileira. E é aqui que se adensam uma das muitas dúvidas sobre a aceitação deste cargo. Passamos a explicar…
O Brasil tem uma das balizas mais competentes e difíceis de escolher o titular, variando entre Alisson Becker (Liverpool), Ederson (Manchester City) e Weverton (Palmeiras). Todos eles com minutos oficiais nos últimos meses. Ao enunciar estes nomes, já dá para perceber o motivo do título, certo? Não é uma questão de competência este acumular de cargos, nestes contextos em concreto… mas uma questão de ética.
Alisson vai ter consigo – e claro, com os restantes guardiões do Liverpool – 3 treinadores de guarda-redes. Se isto não é inédito, pouco longe estará de tal. E um deles, a seu pedido, irá manter o cargo que também estará consigo e onde está um “rival” de clube e que vê de fora esta aproximação no quotidiano, bem além do espectro da seleção, junto do seu maior concorrente na seleção. Por mais competente que se possa ser, imparcial e honesto nas escolhas, é uma relação entre jogador-treinador que passa de esporádica a diária e o que isso envolve de relação, melhoria no treino e fora dele. Imaginem-se na pele de Ederson sobre tal acontecimento.
Terá sido a melhor escolha, para manter estas relações saudáveis, Taffarel ter aceite este acumular de cargos, a pouco menos de um ano do Mundial’22? Não haverá mesmo qualquer conflito de interesses no futuro na escolha do titular do Brasil para tal competição?
Em resposta pode-se dizer: são profissionais, têm de saber estar a par de todas essas situações. É uma desculpa-afirmação que dá para tudo, claramente, mas que na prática é difícil muitas vezes colocar-se em ação. E é percetível que assim o seja.
E ainda outra questão adicional, agora na perspetiva dos treinadores (os dois) de guarda-redes do Liverpool: como ficarão eles, que já conquistaram tudo a nível de clube – com o mesmo Alisson na baliza e em que o ajudaram a tornar-se no melhor guarda-redes do mundo – com a aquisição, a pedido do próprio guarda-redes – voltamos à palavra “alegadamente, por tudo o que se lê na imprensa – de outro treinador de guarda-redes. Falta de crença no processo? Falta de intensidade e volume físico e técnico que é comum dos brasileiros? Tantas dúvidas que se podem tirar daqui.
E ainda outra questão… quem liderará o processo de treino de guarda-redes no Liverpool? E estarão todos em consonância no planeamento e execução dos mesmos? Sobre tudo isto, um comunicador nato como Klopp já respondeu.
Sobre isto, Jurgen Klopp à imprensa do clube diz que esta contratação serve para cimentar o Liverpool como uma das melhores escolas de guarda-redes do mundo e que a contratação de Taffarel vem nesse sentido e que irá ajudar os restantes treinadores de guarda-redes na troca de experiências e análises. Falou também que Jack, um dos treinadores de GRs é muito jovem e que isto é uma ótima forma de receber informação e experiência de guarda-redes de topo e para John, que elogia sendo uma enciclopédia no que diz respeito aos guarda-redes, que irá beneficiar muito destas discussões. Terminou ainda dizendo que ter uma influência na equipa técnica do futebol brasileiro ajudará o staff a ter mais cultura e debate de ideias para gerar uma equipa cada vez mais capaz. Declarações em liverpoolfc.com – (ver aqui)
Tudo isto soa a um grande elogio ao próprio trabalho de Taffarel que tem feito nos últimos anos e ver um dos melhores do mundo “pedir” a sua contratação dá mostras disso mesmo. Mas na prática, são levantadas várias questões éticas e morais de vários intervenientes e vários contextos distintos que faz este aceitar do cargo como algo que pode ser desconfortável para todos. Entre clube, por mais que se possa dizer o oposto publicamente e principalmente na seleção.
Levantamos estas dúvidas e questões para incentivar o pensamento crítico e debate sobre este tema e os problemas e constrangimentos que isto pode gerar. Claro que, no meio disto, é inacreditável a proporção que o treino de guarda-redes chegou no futebol atual que há clube que não só têm 2 treinadores de guarda-redes na equipa principal – como, por exemplo, acontece nos 4 primeiros clubes da primeira liga portuguesa – mas 3 treinadores também! Um crescimento exponencial nos últimos anos… e que será sempre de salutar!