(Artigo) Treino de Guarda-Redes: a fórmula de sucesso,
por Miguel Menezes
O Treino de Guarda-Redes foi das áreas do futebol que nos últimos vinte anos mais evoluiu. Não só pela forma como o papel do Guarda-Redes mudou dentro do jogo, aumentando a exigência nos vários momentos do mesmo, como também pela introdução dos especialistas nesta área: os Treinadores de Guarda-Redes. No treino, onde ocorre a melhoria diária dos Guarda-Redes a revolução foi grande. Hoje em dia, encontramo-nos dentro de um misto de “escolas” e metodologias diferentes. Basta ir a qualquer rede social e procurar por Treino de Guarda-Redes e a oferta é diversificada.
Como Treinadores procuramos constantemente refletir na procura constante de melhorar o processo, de encontrar “a forma” mais completa que faça desenvolver Guarda-Redes. São várias as questões com as quais me vou debatendo:
O que significa o Guarda-Redes ter sucesso? Como se mede esse sucesso? O que significa o Guarda-Redes ter rendimento? A quantidade de bolas que defende ou não defende? Qual a melhor forma de treinar o Guarda-Redes? Mais analítico? Mais complexo? Mais físico, técnico ou tático? Onde se enquadra o treino integrado com a equipa no meio deste processo de desenvolvimento individual do Guarda-Redes? Que papel tem o ambiente entre os Guarda-Redes e entre os Guarda-Redes e o seu treinador de Guarda-Redes para obter sucesso?
As questões são muitas e variadas e as respostas convido-vos a procurar comigo. O que a experiência me diz é que não existe uma única forma de ver o jogo (o Guarda-Redes incluído), nem uma única fórmula de sucesso. Até porque o que funciona hoje, amanhã pode deixar de funcionar. O jogo de futebol é “caos” e ao mesmo tempo estrutura. É um ambiente em constante evolução e mudança.
O Guarda-Redes faz parte do jogo. Uma resposta para o problema é o Guarda-Redes ter de ser capaz de se adaptar constantemente aos requisitos do jogo e a este ambiente de constante caos e variabilidade. Onde entra o papel do Treinador de Guarda-Redes neste processo? Na criação de um ambiente de treino favorável ao crescimento e florescimento do potencial dos seus pupilos. Volto a dizer: não há uma única forma de obter sucesso. Querem um exemplo simples? Comparem o top5 de Guarda-Redes mundial. Nenhum teve a mesma escola, a mesma metodologia, as mesmas experiências e mais ainda, todos são diferentes, tanto nas abordagens a determinados lances, como até tecnicamente. Mais um simples exemplo: a posição base. É importante pensar e enquadrar a individualidade no processo de treino.
Quanto ao treino, mais do que perceber se este deve ser mais técnico, tático, físico ou mental, o importante é antes de mais perceber quais as exigências do jogo para o Guarda-Redes. No meio desta equação ainda poderemos colocar as exigências estratégicas e as necessidades individuais de cada Guarda-Redes. A base de trabalho deve sempre procurar responder às várias necessidades nos 4 campos enunciados: físicos, técnicos, táticos e mentais. Taticamente as melhores situações são as trabalhadas com a equipa, numa envolvência real entre Guarda-Redes, colegas de equipa, espaço de jogo e adversário. Podem me questionar: mas não se trabalha taticamente no treino de Guarda-Redes? Claro que sim! Mas sabemos as limitações que temos na construção do mesmo tipo de situações. Acredito que a uma escala mais micro devemos trabalhar comportamentos técnico-táticos que queiramos ver replicados nas situações jogadas. Um exemplo simples: é diferente treinar um vólei à figura do Guarda-Redes de uma bola corrida batida do chão. E é diferente trabalhar isto fora da baliza, desprovido de uma imagem real de jogo, do que trabalhar na baliza com referências de jogo.
Não existe uma “fórmula mágica” de sucesso onde consigamos mensurar a 100% e para todas as realidades qual é a melhor maneira de treinar Guarda-Redes. Por vezes o ênfase do treino pode ser mais físico, outras vezes mais técnico e outras vezes mais tático. Poderemos partir de situações mais analíticas e chegar às mais complexas ao nível da tomada de decisão ou então porque não enquadrar em exercícios mais técnicos/físicos decisões táticas? Ou seja, nem tudo tem de ser analítico e extremamente fechado, como nem sempre resulta tudo aberto (podemos ponderar aqui questões como o domínio da técnica e até mesmo um objetivo físico mais especifico, já para não falar da tão aclamada intensidade). Cada momento, realidade, metodologia e Guarda-Redes exigirá diferentes abordagens. Devemos acreditar na nossa ideia, no nosso processo, mas nunca descurando o fundamental da questão: desenvolver Guarda-Redes capazes de lidar com a exigência do jogo. Para isso duas questões que procuro constantemente fazer são: os Guarda-Redes estão a evoluir? Estão a conseguir responder em jogo?
Escrito por Miguel Menezes, Treinador de Guarda-Redes